O setembro amarelo, um alerta contra o suicídio, já ficou para trás. Porém, a preocupação com a depressão e outros transtornos psicológicos, que podem levar ao ato extremo, precisa durar o ano inteiro. Por isso, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) leva a seu Congresso, que será realizado entre 16 e 18 de outubro em Natal/RN, um tema pouco abordado, mas muito importante: a relação entre diabetes e depressão.
A princípio, essas duas referências parecem ter em comum apenas os números alarmantes. No entanto, a ligação vai além. “A prevalência da alteração psiquiátrica em pacientes com diabetes é o dobro se comparada às pessoas saudáveis, sendo mais frequente em quadros do tipo 2. A literatura mostra que cerca de 30% das pessoas com diabetes apresentam algum grau de depressão”, alerta o Dr. Saulo Cavalcanti, coordenador do Departamento de Aspectos Psicossociais e Transtornos Alimentares da Sociedade Brasileira de Diabetes, que discutirá o tema no Simpósio sobre Diabetes e repercussões neuropsiquiátricas.
Causa ou Consequência?
É preciso entender que ambas as ações podem ser observadas. De acordo com o médico, a depressão pode afetar negativamente o controle glicêmico das pessoas com diabetes ou ser fator desencadeante desse descontrole em pessoas que não apresentam o quadro.
“Existe uma relação bidirecional nesse caso. Entre as razões para a preponderância de depressão nesse grupo estão fatores psicossociais decorrentes da existência da doença crônica propriamente dita, como inabilidade para lidar com os cuidados e os efeitos que o quadro pode desencadear. Há também causas orgânicas, como rompimento do ritmo circadiano, resistência à insulina no sistema nervoso central, processos imunológicos e inflamatórios, e aumento da degeneração dos neurônios, concomitante à diminuição da plasticidade neuronal”, explica o Dr. Saulo Cavalcanti.
Em outras palavras: tanto depressão como diabetes apresentam incidência muito alta, uma potencializa os efeitos da outra, e o problema é que frequentemente são doenças subdiagnosticadas e subtratadas. O diabetes tipo 2, por exemplo, é a versão mais popular da doença, mas gera poucos sintomas, o que a faz passar quase despercebida – quando surgem indícios, como boca seca, a glicose já está bem acima do normal. “Como a depressão crônica pode reduzir a aderência ao tratamento e a piora do controle glicêmico, é necessário melhorar o diagnóstico e o tratamento a fim de minimizar o risco de complicações, bem como aumentar a qualidade de vida do paciente”, orienta o médico.
Atitudes de Proteção
Em virtude desse quadro, é importante que os médicos realizem uma averiguação criteriosa em pacientes com diabetes sobre a presença de sintomas depressivos, bem como em pacientes depressivos a possível presença de diabetes. “Nos casos abrangendo os dois quadros, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) apresenta nas suas diretrizes, desde 2014, que o não psiquiatra pode tratar as formas leves ou moderadas da depressão, desde que domine os conhecimentos básicos sobre o tema. Isso porque a terapêutica não deve visar apenas o uso de antidepressivos e/ou psicoterapia, mas abordar e lidar com o estresse provocado pelos problemas de conviver com o diabetes”, orienta o especialista.
Quanto aos psicofármacos existem cerca de trinta apresentações que demonstram eficácia, porém é imprescindível o conhecimento sobre as formulações na hora da prescrição, bem como levar em conta êxito comprovado, preferência do paciente, interações medicamentosas e tolerância à medicação. “Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) são considerados de primeira linha no tratamento de episódios depressivos. Deve-se evitar, se possível, os antidepressivos tricíclicos e os iMAOs (Inibidores da Monoamina Oxidase), pois têm ação hiperglicêmica”, recomenda. Os antidepressivos, de um modo geral, demoram de duas a quatro semanas para iniciar a ação, e durante o tratamento pode ocorrer recidivas.
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