Levantamento inédito da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a partir de dados do DataSUS, reforça que diagnósticos não realizados na pandemia têm levado a doença se manifestar antes do que esperava a comunidade médica
O artigo “Covid-19 e o câncer de mama no Brasil”, recém-publicado no IPJH, é o primeiro estudo no País a avaliar individualmente todas as regiões do território nacional, destacando as consequências da pandemia no diagnóstico e tratamento da doença.
Em conjunto com Aline Ferreira Bandeira Melo Rocha, Glalber Luiz Rocha Ferreira, Danielle Cristina Netto Rodrigues e Rosemar Macedo Sousa Rahal, Ruffo Freitas-Junior constatou no estudo que o número de mamografias realizadas por mulheres de 50 a 69 anos, faixa etária que constitui a população-alvo para a detecção precoce do câncer de mama, diminuiu significativamente nos períodos críticos da pandemia. Em 2020, foram feitos 1.613.119 exames no serviço público de saúde no Brasil, número 40% inferior às mamografias em 2019 (2.658.289). Em 2021, foram 2.189.734, 18% menor na comparação com 2019, indica o levantamento.
Antes da pandemia, os estadiamentos mais agressivos de câncer de mama representavam 40,8% dos casos. Entre 2020 e 2021, confirma o novo levantamento da SBM, os estágios III e IV são 51,5% dos diagnósticos, de acordo com dados analisados no DataSUS, Departamento de Informática do SUS que monitora o tratamento da doença no Brasil. “A situação, que era ruim, piorou ainda mais. Atualmente, há um avanço de aproximadamente 26% nos estágios III e IV, os mais graves”, afirma.
A análise do avanço de ocorrências nos estágios III e IV por regiões brasileiras revela que o Centro-Oeste desponta com 21,3%. O Nordeste aparece com 10,3%; o Norte, 16,6%. No Sudeste, o crescimento foi de 11,2% e 6,2% no Sul. “Em todas as regiões, exceto no Sul, o percentual de casos em estágios III e IV superou os estágios I e II durante a pandemia”, destaca.
Para o mastologista, os efeitos negativos da pandemia no diagnóstico e tratamento do câncer de mama ocorrem antes do esperado. “Quando constatamos o aumento nos estágios III e IV, consideramos consequências como mastectomias totais, gastos elevados com tratamentos por parte do governo e, o pior dos cenários, o crescimento do número de mortes”, pondera.
Na avaliação de Freitas-Junior, é preciso implementar um modelo de saúde pública totalmente renovado para o diagnóstico e tratamento de câncer no Brasil. O médico destaca que o SUS não dispõe, por exemplo, de uma ferramenta que avise as mulheres na faixa dos 50 a 69 anos sobre o momento de fazer os exames e, assim reduzir a falta de rastreamento mamográfico, meio para detectar uma doença que tem alto índice de cura quando diagnosticada precocemente.
Depois do câncer de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente e a primeira causa de morte em mulheres de todas as regiões do Brasil. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) prevê 73.610 novos casos da doença até o fim deste ano.
“As políticas públicas são muito falhas. Enquanto isso, os profissionais de Saúde convivem com a expectativa de aumento de casos que, infelizmente, acaba se comprovando ano após ano no Brasil há várias décadas”, finaliza Ruffo Freitas-Junior.
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