📉 O Milagre da Planilha: Você investe hoje e recebe o lucro… em 2037!

Meus caros aspirantes a magnatas do transporte, peguem suas calculadoras. A Prefeitura de Campinas e a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) divulgaram os números da nova licitação. E eles não são apenas otimistas; são uma peça de ficção científica.

Analisando a tabela do “Fluxo de Caixa Livre – Lote Norte”, descobrimos o segredo do sucesso empresarial segundo a gestão Dário Saadi: Pague agora, receba (talvez) na próxima encarnação.

O Payback do “Dia de São Nunca”
O dado mais assustador da planilha está na linha “FCL Acumulado”. O empresário que assinar esse contrato vai ficar no vermelho do Ano 1 até o Ano 11.

Isso mesmo. O payback (o retorno do investimento) só acontece no 12º ano de concessão.

Você investe centenas de milhões hoje e só começa a ver a cor do dinheiro de verdade quando o prefeito Dário Saadi já for uma memória distante nos livros de história (ou nos processos do MP). Quem, em sã consciência, entra num negócio de alto risco no Brasil para ter retorno daqui a uma década e meia? É mais seguro jogar no bicho ou investir em fábrica de paleta mexicana.

Isso explica por que as licitações anteriores deram “deserto” (ninguém apareceu). As empresas já achavam ruim ter que comprar ônibus elétrico antes; agora, vendo que o lucro só vem no ano 12, elas devem estar rindo da cara do edital.

O Choque de Realidade do Primeiro Ano
E por que a conta demora tanto a fechar? Porque o investimento inicial (Capex) no Ano 1 é brutal: R$ 317,9 milhões só no Lote Norte.

A frota de Campinas está tão velha que, para atingir as metas do edital, a empresa vencedora terá que comprar um mar de ônibus novos de uma vez só.

E aqui mora a grande ironia (ou a grande incompetência) política.

O prefeito Dário Saadi, em sua cruzada de “austeridade de fachada”, desistiu do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Campinas tinha sido contemplada com financiamento federal para comprar 512 ônibus (256 elétricos e 256 a diesel). Era uma ajuda não apenas para a situação atual mas também seria uma preparação importante de terreno para o novo sistema de transportes.

Mas Dário disse “não”. Ele não queria comprometer o caixa da Prefeitura ou se endividar. Resultado? Ele jogou a conta inteira no colo da futura concessionária.

A “economia” do prefeito virou o veneno da licitação. Ao forçar a empresa privada a bancar sozinha esse choque de frota no primeiro ano, ele explodiu o fluxo de caixa e empurrou o lucro para 2037.

Conclusão: O Risco do Edital Fantasma
A B3 pode trazer “governança” e “corretoras credenciadas”, mas não traz milagre matemático.

Nenhum investidor sério gosta de colocar R$ 300 milhões na frente para passar 11 anos no vermelho, numa cidade onde o número de passageiros cai a cada ano e num país onde o dólar e a inflação galopam de tempos em tempos.

O risco é claro: no dia 10 de fevereiro, na B3, podemos ter um salão vazio, um martelo sem dono e um prefeito com cara de tacho.

Dário montou uma licitação que exige que o empresário seja, ao mesmo tempo, um gênio da logística e a Madre Teresa de Calcutá. Boa sorte com isso.