Dizem que em Campinas há um feitiço que nenhum exorcista consegue quebrar: a Licitação do Transporte Público.
Desde 2018, políticos, técnicos e presidentes da Emdec se reúnem em rituais secretos — geralmente disfarçados de “coletivas de imprensa e audiências públicas” — para tentar invocar o edital. Mas toda vez que alguém pronuncia as palavras proibidas (“lançamento previsto para este semestre”), um trovão ecoa na Prefeitura e o processo desaparece em meio a fumaça e pareceres jurídicos.
Na última sessão do Conselho dos Mortais do Transporte, Dário Saadi, o prefeito-mago careca das piadas ruins, tentou novamente invocar o edital com a ajuda de seus fiéis acólitos: o Invocador de PowerPoints e o Guardião dos Semáforos Inteligentes.
O ritual foi completo — velas de LED e uma nova proposta de edital com novos mapas de linhas. Mas, como sempre, ficaram apenas os risos. Um riso seco, de servidor público cansado, e sumiu novamente nas brumas do “estamos finalizando os ajustes técnicos”.
Enquanto isso, nas ruas, os ônibus seguem vagando como zumbis de Euro III, soltando fumaça e clamando por aposentadoria.
Há quem jure ter visto, em noites de lua cheia, um lobisomem dirigindo algum carro vencido com o olhar perdido, repetindo o mantra “nova licitação… vem aí…” desde 2021.
A população, claro, já aprendeu a lidar com o fenômeno. Uns deixam oferendas de recarga do Bilhete Único nas paradas; outros rezam na frente da sede da Emdec, pedindo um ônibus que chegue no horário.
Mas o mais assustador mesmo é o silêncio: aquele momento em que todo mundo sente que o edital quase veio — e aí surge uma nota da prefeitura explicando que “falta apenas a revisão do anexo 7”.
Reza a lenda que a maldição só será quebrada quando um agente de trânsito conseguir atravessar a Avenida das Amoreiras sem flagrar nenhuma infração, e quando um ônibus de Campinas completar um ano inteiro sem quebrar.
Até lá, seguimos presos no mesmo feitiço: o horror burocrático da licitação que nunca vem.
Feliz Halloween, Campinas.
E cuidado: à meia-noite, se você escutar um barulho de freio a ar… pode ser só o fantasma do edital de 2018 tentando escapar mais uma vez.
