Campinas em movimento… no slow motion do drone

É sempre emocionante ver como a Prefeitura de Campinas e sua ilustre EMDEC dominam a arte do vídeo institucional: começa com drone sobrevoando o BRT como se fosse a abertura de um documentário da Netflix sobre mobilidade de primeiro mundo. A trilha sonora épica nos leva a acreditar que algo grandioso está prestes a acontecer. O que não se vê é o tempo de espera no ponto.

No vídeo recém-lançado — uma verdadeira ode à gestão do improviso bem maquiado — somos conduzidos por ângulos cuidadosamente pensados para não mostrar nenhum ônibus pegando fogo, nenhum terminal com falta de iluminação e nenhuma linha alimentadora que demora mais do que demorou a obra do BRT.

Mostram o Terminal Ouro Verde com suas escadas rolantes (que, quando funcionam, são um luxo só), os ônibus novos da VB e algumas pessoas sorrindo — talvez por terem conseguido embarcar antes do próximo intervalo de 30 minutos.

Falam em modernização da frota, enquanto ignoram o elefante dentro do terminal: a licitação do transporte, que segue empurrada com a barriga e pendente desde o governo Jonas, com prognóstico reservado no segundo mandato do Dário. Mas calma, porque agora tem tomada USB no banco do ônibus! É o novo conceito de mobilidade: você não chega a tempo, mas seu celular chega carregado.

E as linhas da região do Campos Elíseos? A promessa de extinguir a dupla 154 e 164 segue firme… no esquecimento. No Corredor Campo Grande, a 212 existe até hoje e roda lotada de gente porque o BRT não dá conta da demanda. Enquanto isso, os passageiros seguem em sua via crucis diária, com uma conexão absurda ou um desvio inexplicável, dependendo do excelente planejamento da Emdec.

No fim, o vídeo é bonito, sim. Daria até pra exibir em Cannes, na categoria “Ficção Municipal”. Mas como já dizia minha avó: “promoção sem entrega é só propaganda”. E nesse quesito, Campinas tá andando com o freio de mão puxado — só com o drone voando mesmo.