A mais nova iniciativa da Emdec para “combater o vandalismo” na Estação BRT Rossin é, claro, um gradil metálico. Nada como resolver problemas complexos com soluções simbólicas: gastaram R$ 28,5 mil em gradis metálicos para impedir que a passagem entre os dois módulos continue sendo palco de quebra-quebra, furto e evasão.
A nota da Emdec diz que foram “pelo menos 16 acionamentos” por vandalismo entre 2022 e 2025. Uma média de uma ocorrência a cada dois meses. Parece pouco? Depende da lente que você usa. A da Emdec vê um apocalipse em câmera lenta; já a lente dos usuários — aqueles que pegam ônibus todo dia — vê um sistema desleixado, com estações abandonadas à própria sorte, usadas como palco de furtos e ponto de tráfico.
Porque, sejamos justos: o vandalismo é mesmo um problema sério. Vidros quebrados, corrimãos furtados, gente pulando catraca como se fosse prova olímpica — tudo isso degrada ainda mais um serviço que já não brilha pelo conforto. Mas é justamente aí que mora a contradição: por que os tais 100% de videomonitoramento no Corredor Campo Grande, tão orgulhosamente alardeados, não impediram nada disso?
A verdade é que monitorar por câmera é como assistir ao naufrágio da janela e chamar isso de “gestão da crise”. Os olhos digitais da Emdec estão atentos, mas impotentes. Filmar o vandalismo é diferente de impedi-lo. Cadê as equipes operacionais, a segurança de verdade, a presença constante que desencoraja o crime e não só grava ele em baixíssima resolução?
Culpar o “vândalo genérico” é fácil. Difícil é reconhecer que estações degradadas são reflexo de abandono. Difícil é admitir que o BRT, prometido como o salto civilizatório do transporte, virou cercadinho de grade, remendo de concreto e papel de parede institucional.
O vandalismo é condenável, sim. Mas ele floresce onde há descaso, onde a presença do Estado se resume a uma câmera e um vigilante que passa de carro de vez em quando. Gradis podem até atrasar um pulador de catraca ou dificultar o furto de um corrimão, mas não vão esconder a sensação de insegurança, nem resolver a boca de fumo que alguns trechos dos corredores BRT viraram.
No fim, a Emdec entrega uma cerca como quem entrega progresso. E a população, cercada de promessas e grades, continua esperando o ônibus — aquele que nunca chega.