Meus caros leitores, que ainda aguardam o ônibus que talvez chegue antes da próxima eleição: nosso prefeito Dário Saadi concluiu sua “missão internacional” em Dubai.
Enquanto a Emdec celebra migalhas de R$ 2 na Zona Azul, Dário foi “trocar experiências” na cidade mais futurista do planeta. E, graças aos stories do prefeito, pudemos acompanhar essa jornada épica em quatro atos.
Ato 1: O Homem de Negócios
Achou que Dário foi lá só pelo clima? Que inocência! No primeiro dia, ele nos explica que o evento sobre “sustentabilidade” tem um “foco especial”: “intercâmbio comercial, negócios”.
Com a empolgação de quem descobre uma palavra nova, Dário repete, ao lado do embaixador: “Business… business, Brasil, sim!”.
Ele até “convidou uma comitiva de empresários de Dubai” para “investimentos árabes em nossa cidade”. Mal podemos esperar para os Sheiks chegarem em seus jatinhos e ficarem presos na John Boyd Dunlop, tentando entender por que o BRT ainda não funciona.
Ato 2: O Estadista Climático
Depois de cuidar dos “business”, Dário vestiu a capa de Guardião do Clima. Em pleno Fórum de Dubai, ele foi “ser exemplo pro mundo”, gabando-se de que Campinas reduziu 18% das emissões de gases.
Dezoito por cento! A única explicação para essa mágica é que o cálculo inclui os dias em que a frota inteira quebra e o cidadão, num ato de “mitigação”, desiste e vai a pé. Dário foi a Dubai dar palestra sobre aquecimento global enquanto seus ônibus pegam fogo por superaquecimento aqui.
Ato 3: O Sheik Digital
Após “salvar o mundo”, Dário foi ver gadgets no “Digital Dubai”. E o que fascinou nosso prefeito? Transporte inteligente? Controle de frota? Não! Saúde digital.
Ele nos mostra um aplicativo e se gaba para a moça local sobre o “Programa de Saúde Digital de Campinas, que é fantástico”. (Fantástica, Dário, é a fila no Hospital Ouro Verde).
Mas a grande descoberta do prefeito é: “Olha… aqui não tem um SUS, não tem saúde pública gratuita, todo mundo aí tem que ter seu plano de saúde”.
É isso: Dário foi ao Oriente Médio e ficou empolgado em descobrir um lugar sem o SUS. É a gestão do “app” acima da gestão do “acesso”. A mesma lógica do transporte: o release é digital, mas o ônibus é analógico e quebrou no terminal.
Ato 4: O Turista Bairrista
Depois de tanto “business” e “clima”, Dário foi descansar. Foi aí que ele nos mandou o vídeo da “Dubai Antiga”.
E a grande “troca de experiência” em mobilidade? Um “barco de madeira”.
O ápice da gestão internacional foi Dário Saadi comparar o barco árabe com a Caravela do Taquaral e concluir, num arroubo patriótico: “Claro que a de Campinas é muito mais bonita”.
Ato 5: O Ouro dos Tolos (e a remoção estratégica)
Mas a joia da coroa (literalmente) foi o vídeo que sumiu. Dário, nosso prefeito focado em “gestão”, publicou um vídeo encantado com… um mercado de joias.
Isso mesmo. Não era um VLT, não era o metrô e nem os pontos de ônibus climatizados de Dubai. Era uma rua cheia de lojas de ouro, como se isso fosse uma grande inovação. Talvez ele esteja pensando em pavimentar o BRT com ouro 18k para justificar o custo.
O melhor, no entanto, veio depois. Após esta coluna debochar singelamente da relevância de um “tour pelo mercado de ouro” para uma cidade onde a licitação do transporte está emperrada, o que aconteceu? O vídeo desapareceu das redes da Prefeitura.
A Prefeitura, que não tem velocidade para concluir uma licitação de transporte, teve agilidade de falcão (árabe, claro) para apagar o vexame.
Conclusão
Dário foi a Dubai e voltou. O que ele nos trouxe?
- A promessa de business para uma cidade que não funciona.
- A mentira de que nossa fumaça preta é crédito de carbono.
- A ideia de que um app é mais legal que o SUS.
- A opinião de que nosso barco velho é superior.
- A agilidade da secretaria de comunicação que sabe usar o botão “excluir” quando o deboche é a maior repercussão.
Bem-vindo de volta, prefeito. A realidade do transporte em frangalhos e da licitação que não sai do papel manda lembranças.





