Pregão da Vergonha

Campinas vai finalmente à Bolsa de Valores. Não para abrir o capital, mas para tentar fechar — quem sabe, enfim — o capítulo mais arrastado da história recente da cidade: a licitação do transporte público. Defendemos, claro, que o transporte seja concedido com regras claras, prazos firmes e concorrência de verdade. O problema é que, em vez de um processo organizado com metas cumpridas, temos um espetáculo contínuo de remendos e emergências que já viraram política pública permanente.

A Emdec, num acesso de “modernidade estratégica”, contratou a B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, para assessorar o processo. A justificativa é que isso trará “transparência”. De fato, talvez seja a primeira vez que a população verá o transporte de Campinas aparecer em um painel de LED — ainda que seja só para anunciar mais um atraso.

E enquanto a Emdec divulga essa façanha técnica digna de PowerPoint, o prefeito Dário Saadi está em Dubai, “trocando experiências” a convite dos Emirados Árabes. Uma troca bastante justa: eles mandam areia, nós devolvemos fumaça preta de diesel e promessas que evaporam.

O presidente da Emdec, Vinícius Riverete, afirmou que a presença da B3 “demonstra a importância da licitação”. Realmente — a importância é tanta que o povo de Campinas não poderá nem assistir. A abertura dos envelopes será em São Paulo, longe das ruas esburacadas e dos terminais lotados. A transparência, ao que parece, é inversamente proporcional à distância do povo.

E pensar que a Emdec teve 1.130 sugestões da população e levou quatro meses para “analisar”. Mas quem se importa? Com a B3 no comando, tudo ganha um toque de “mercado”. O edital pode não sair, mas ao menos agora ele tem lastro.

Dário deve estar satisfeito: conseguiu colocar Campinas na Bolsa. Só esqueceu de avisar que, por aqui, o papel que mais circula é o de trouxa.