Como se formam e como se proteger efetivamente dos grandes temporais?

O ano de 2019 está sendo marcado por grandes tempestades. Cidades em todo o país registraram chuvas intensas com mais de 100 milímetros em poucas horas, fortes rajadas de vento, quedas de árvores, desmoronamentos e alagamentos de ruas e avenidas, impactando a vida de milhares de pessoas.

Grandes tempestades foram registradas nos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná, Maranhão, Piauí, Mato Grosso do Sul, Pará e Rondônia. A pergunta que muitos estão fazendo é: o que estaria causando essas mudanças no padrão de chuvas e temperaturas em todo o país? Apesar de não ser possível afirmar que um único caso seja efeito da mudança global do clima, sabemos que o aumento na intensidade e frequência desses eventos extremos é sim resultado dessa mudança.

Um estudo conduzido pela Universidade da Califórnia, publicado no International Journal of Climatology, revela que as mudanças climáticas são responsáveis pela alteração no padrão de chuvas no Brasil. As conclusões do trabalho, baseadas em 70 anos de dados meteorológicos, mostram que as ilhas de calor em grandes metrópoles criam condições para a formação de tempestades, que são intensificadas devido à proximidade com o Oceano Atlântico. O levantamento ainda destaca a tendência de um ressecamento das regiões Norte e Nordeste e um umedecimento do Sul e do Sudeste.

O clima já mudou e, infelizmente, continuará sofrendo alterações se a população mundial não adaptar rapidamente seus hábitos de vida e consumo. A grande exploração de combustíveis fósseis como diesel, gasolina, querosene e carvão mineral; os altos índices de desmatamento; e a produção agropecuária com alta intensidade de emissões de gases de efeito estufa (GEE), sem o uso de técnicas de redução, são os principais fatores que agravam o problema.

A Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas recomenda há anos que todos os países membros tenham um plano de ação para adaptação. Em maio de 2016, o Brasil instituiu o “Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima” (PNA), com o objetivo de promover a redução da vulnerabilidade nacional às mudanças climáticas e realizar uma gestão do risco associada a esse fenômeno. É mais do que urgente a necessidade de o poder público implementar o PNA nas esferas nacional, estadual e municipal.

O primeiro passo a ser dado é um amplo reconhecimento pelas instâncias de governo e pela sociedade como um todo que a mudança global do clima é um dos maiores desafios da nossa civilização. A partir dessa consciência, é preciso investir em políticas públicas de redução de emissões de GEE e de adaptação para garantir a segurança e a qualidade de vida da população, bem como aproveitar as oportunidades decorrentes da necessidade global de tecnologias e produtos de baixo carbono.

Por se tratar de uma tendência mundial, os empresários que investirem nesse segmento terão cada vez mais demanda por produtos e tecnologias como: veículos elétricos; combustíveis e energias renováveis; máquinas e equipamentos mais eficientes; e alimentos e produtos mais saudáveis, que possuem baixa de emissão.

Também é preciso mapear as regiões mais vulneráveis a alagamentos e deslizamentos de terra e retirar as pessoas das áreas de risco, como margens de rios e encostas íngremes. É necessário manter parques, praças e ruas arborizadas para diminuir o efeito das ilhas de calor, que atraem as grandes tempestades. Outras ações importantes são a instalação de pavimentos mais permeáveis e o descarte correto do lixo. Trata-se de uma questão de segurança pública e sua efetiva implementação é fundamental para a redução de riscos e impactos socioeconômicos e ambientais.

  • André Ferretti é engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais, gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.

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