Muito tem se falado sobre o potencial dos alimentos no tratamento de uma série de alterações na pele, incluindo acne, rugas, dermatites, psoríase e rosácea. Mas um novo estudo da Brown University, publicado no final de julho no Journal of American Medical Association Dermatology, descobriu que a ingestão de frutas, verduras e legumes ricos em vitamina A está associada a um menor risco de um tipo comum de câncer de pele, chamado carcinoma de células escamosas. E nem é necessário exagerar: ingerir duas cenouras grandes ou uma batata-doce média por dia já reduz em 17% o risco de câncer de pele. “Este é o segundo tipo de câncer de pele mais comum em pessoas de pele clara. O papel da vitamina A em ajudar na renovação das células da pele é bem conhecido, mas sua utilidade na redução do risco de câncer de pele tem sido motivo de controvérsia. O uso de protetor solar, e evitar a exposição à luz solar forte, são as principais recomendações para diminuir a incidência de câncer de pele. O atual estudo sugere que comer frutas e vegetais ricos em vitamina A pode ser outra boa maneira de diminuir esse risco”, diz o dermatologista Dr. Jardis Volpe, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia.
Dos 123.000 indivíduos, todos eram de fototipo claro (brancos), o que os colocava em maior risco de câncer de pele. Entre eles, havia quase 4.000 casos de carcinoma de células escamosas durante o período de estudo.
De acordo com o estudo, os pesquisadores estavam procurando evidências de associação entre câncer de pele e ingestão de vitamina A. “A conclusão foi a de que aqueles que tiveram a maior ingestão de Vitamina A proveniente de fontes vegetais tiveram um risco 17% menor de carcinoma de células escamosas em comparação com aqueles com a menor ingestão”, afirma o médico. Na dieta, essa “ingestão maior” pode ser comparada a comer duas cenouras grandes ou uma batata-doce média cozida diariamente.
Outra descoberta do estudo foi que a maior parte da vitamina A ingerida era proveniente de frutas e vegetais, e não de suplementos ou de produtos à base de animais. “Alimentos ricos em vitamina A incluem vegetais verdes folhosos como alface, além de cenouras e batatas-doces, e frutas como damasco ou melão. Compostos como a vitamina A, como o licopeno, foram encontrados em tomates e melancia, e também reduzem o risco de câncer de pele. Alimentos de origem animal contendo abundante vitamina A incluem leite, fígado e peixe oleoso”, diz o médico.
A vitamina A é uma vitamina lipossolúvel que é convertida em vários retinóides, que são compostos bioativos necessários para a adequada maturação e diferenciação das células epiteliais. Formas sintéticas desses compostos são empregadas para prevenir o câncer de pele em populações de alto risco, mas têm um potencial significativo para danos. Daí o foco do estudo atual em fontes naturais de vitamina A para a quimioprevenção do câncer de pele é justificada. No estudo, a análise compensou a presença dos outros fatores de alto risco.
Mas é necessário tomar cuidado com relação à Vitamina A. O mesmo estudo também lembrou sobre a toxicidade do nutriente. “Fontes baseadas em animais e suplementos podem elevar os níveis sanguíneos de vitamina A, causando náusea, desequilíbrio do fígado, osteoporose e fratura de quadril. Na pele, pode causar ressecamento e no cabelo pode contribuir para a queda. No entanto, fontes vegetais de vitamina A geralmente não resultam em toxicidade”, lembra o médico. “Como este estudo foi de natureza observacional, ainda é necessário um ensaio clínico randomizado com controles ou um grande estudo prospectivo para se chegar a uma conclusão quanto ao papel da vitamina A na redução do risco de câncer”, finaliza.
JARDIS VOLPE: Dermatologista; Diretor Clínico da Clínica Volpe (São Paulo). Formado pela Universidade de São Paulo (USP); Especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia; Membro da Sociedade Americana de Laser, da SBD e da Academia Americana de Dermatologia; Pós-graduação em Dermatocosmiatria pela FMABC; Atualização em Laser pela Harvard Medical School.
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