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EDITORIAL: Porque não devemos mais fazer uma cobertura tão incisiva sobre ataques em escolas?

O ataque a bebês em uma creche de Blumenau, Santa Catarina, fez ressurgir o sentimento de que a imprensa séria está se debruçando demais na loucura de pessoas que querem apenas aparecer.

É claro que isso não é minimizar o fato que aconteceu e nem deixar de lamentá-lo. Mas, é notório que o assassino que causou a barbárie no Sul do país é apenas uma pessoa que tem sérios problemas mentais e que queria aparecer. Ser famoso. Ganhar ‘likes’.

Isso é reflexo de um mundo que é baseado apenas no que as redes sociais dizem. O número de seguidores é o que importa. A quantidade de likes é o que determina o quanto a pessoa é ‘valiosa’, mesmo que ela não valha nada (em todos os sentidos).

Alguns veículos de comunicação começaram a perceber o fato de que, quanto mais se fala sobre um caso, mais se “dá corda” para que outros loucos façam a mesma coisa.

E, sim, a palavra para definir essas pessoas é essa: loucos.

Esses veículos, que em outros tempos faziam a cobertura em tempo real, mostrando cada imagem, cada segundo, são um tanto hipócritas, é verdade.

No caso da escola em São Paulo, acompanharam par-e-passo o adolescente de 13 anos (louco, também), saindo da delegacia, indo para a Fundação Casa.

Agora, decidiram agir diferente. Não vão divulgar mais o caso que aconteceu nesta quarta-feira — ou vão fazer isso em notas curtas, reportagens menores. E, talvez, possa ser um bom sinal, apesar de ter vindo tarde demais.

O argumento é de ‘pesquisas internacionais’ que mostram que a divulgação desses casos “encoraja” outros loucos a fazer a mesma coisa. Não é necessária nenhuma pesquisa internacional para comprovar isso.

É só ver a quantidade de casos que estão acontecendo em todo o país. Ataques que “dão certo”, tentativas frustradas…

Pena que o pensamento do Ibope, audiência a todo custo, ainda seja latente para outras empresas de comunicação.

Onde queremos chegar: o ODC decidiu, desde o caso de São Paulo, a não divulgar mais ocorrências dessa natureza. Tanto que, se você reparar, talvez sejamos o único site da cidade a não postar absolutamente nada do que aconteceu — e nem do caso de Blumenau.

Precisamos de audiência? Claro. Afinal, quanto mais acessos, mais dinheiro vem das propagandas que vocês tanto odeiam. E, assim, o site pode se manter no ar.

Mas, consideramos que existem limites. Poderíamos ter divulgado várias notícias de supostos ataques e massacres que iriam acontecer em escolas da região de Campinas. Contabilizamos seis nos últimos dias, só para você ter uma ideia.

Não fizemos isso. Decidimos abrir mão de “um dinheiro fácil” com o tanto de cliques que essas notícias iriam trazer em troca de um site com informações de qualidade e que discutam outros tipos de problema da cidade de Campinas, como o transporte, que sempre foi nosso foco — mas trazendo também outras informações que podem ser relevantes em alguma forma para uma parcela das pessoas que acessam o ODC.

É fato que existe um problema que precisa ser resolvido, que é dessa mentalidade de adolescentes e jovens que acham que podem fazer tudo, podem falar tudo, podem agir como querem, e que está tudo bem. Só que esse é um problema que precisa começar a ser pensado em casa, com a educação que essa pessoa recebe dos pais. Escola serve para ensinar, claro. Mas não deveria ser a responsável pela educação de base, que é aquela onde se pede “por favor”, “licença” e, principalmente, “desculpe”.

Uma expressão resume o que queremos dizer aqui:

Enquanto tiver plateia para aplaudir o palhaço, ele vai continuar fazendo gracinha.

Nós não vamos ser mais essa plateia.


Sobre o ODC

Este é o único site da região que trata do transporte coletivo e mobilidade urbana com a seriedade, rigor e precisão que o tema merece.

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