Especial | 1 mês do caso do menino encontrado no barril: o que aconteceu até agora?

Em 30 de janeiro de 2020, uma notícia de cárcere privado acabou por chocar o Brasil e o mundo.

Não era um crime qualquer, mas sim um com a maior repercussão na história recente de Campinas.

Um menino de 11 anos foi resgatado pela Polícia Militar em uma condição que ninguém imaginava: nu, de pé, dentro de um barril de ferro.

Ao tirá-lo do local, o garoto queria apenas um pouco de água e perguntava sobre o pai.

O menino sabia que o que estava acontecendo não era normal.

As investigações começaram, e informações ainda piores foram descobertas.

O menino estava no barril há mais de um mês, chegou a ver a passagem de ano por um buraco na parede.

O motivo? Ele teria pego comida sem “autorização” dos pais.

O pai, que o registrou, vivia com uma mulher, que tinha uma filha.

Todos eram coniventes na tortura psicológica e física do garoto, que também era mantido sem alimentação.

Um dos argumentos da “família” é que o menino tinha um problema psiquiátrico, que nunca foi descoberto.

Na verdade, hiperativo como toda criança é nessa idade.

Foto: Wagner Souza / exclusivo para o ODC

Uma casa boa, mas…

Um laudo da perícia apontou que a casa onde o garoto vivia tinha comida em abundância e condições ideais para que um menino da idade dele pudesse se desenvolver.

Mas, ele era mantido nesse tal barril, amarrado com correntes e preso a cadeados, para que não pudesse se mexer.

A casa da família acabou revirada no dia seguinte ao caso.

Muita gente indignada com a situação queria fazer justiça por ele.

A casa tinha até cachorros que eram tirados das ruas pela madrasta, conhecida como uma protetora independente, amante da causa animal.

Os cães foram tirados por uma ONG, que não constatou nenhuma irregularidade com eles. Todos bem de saúde, bem alimentados…

Mas, o menino, não.

Comoção

A partir do dia do descobrimento do caso, uma avalanche de comoção tomou o país.

A própria Polícia Militar fez uma campanha para arrecadação de roupas, brinquedos e material escolar.

Nenhum dinheiro foi pedido, até porque não se sabia o que ia acontecer com o garoto.

Mais de 326 peças de roupas, videogames, mochilas e tudo que se pode imaginar foi doado.

Até um MC de Jundiaí fez uma música para arrecadar dinheiro, que foi depositado em juízo para que ele possa mexer apenas quando tiver 18 anos.

Foto: Wagner Souza/colaboração para o ODC

“Um menino de ouro”

Nos dois hospitais que passou em Campinas, Ouro Verde e Mário Gatti, o garoto é lembrado com muita emoção pelos funcionários.

Quando foi levado para o primeiro, no dia que foi resgatado, conquistou a equipe médica pela simpatia, educação e um gesto nobre.

Ele queria comer um pastel. Compraram. E quando começou a comer, dividiu com quem estava lá.

No Mário Gatti, fez amizade com um outro menino que estava lá.

Pegou um tratorzinho que tinha recebido durante o primeiro tratamento e deu para ele.

“É para você não se esquecer de mim”, disse ao garoto – segundo relato do pai, que também acompanhava.

Como está o menino hoje?

O garoto segue em um abrigo da cidade de Campinas, bem cuidado e tratado com equipe de psicológos.

Porém, a tal doença que os pais falaram, nunca foi descoberta.

Novas informações não são passadas por que o caso envolve uma criança menor de idade, e isso é considerado segredo de justiça.

Porém, sabe-se que o garoto já se recuperou das questões físicas que a desnutrição e a desidratação causaram.

Só que é difícil saber como ficará o psicológico dele a partir daqui.

Toda hora ele pergunta sobre o pai, que está preso. Pedia para que não fizessem nada de mal a ele.

O homem foi denunciado por tortura e abandono intelectual, já que o garoto não frequentou ou estava matriculado em nenhuma escola de Campinas em 2020.

Madrasta e a filha dela também foram denunciadas pelo Ministério Público por tortura, já que sabiam e eram coniventes com o caso.

O quê mudou?

A ministra Damares Alves veio a cidade para prestar apoio e dizer que o Conselho Tutelar precisa ser ampliado.

O mesmo órgão que disse que sabia que a família do garoto era complicada, mas “não sabia que a situação chegava a este ponto”.

Uma outra avalanche começou: críticas ao órgão, que deveria proteger a criança, mas que, na avaliação de todos, nada fez.

O prefeito Dário Saadi, logo no primeiro mês de mandato, teve que assumir uma bomba que não estava prevista: o que fazer com o atendimento de casos de violência doméstica contra crianças?

Ele agiu. Promoveu uma mudança radical no método de atendimento da Assistência Social.

Agora, todos os funcionários serão treinados (algo que até acontecia quando eles entravam, mas que ficava só nisso mesmo) para detectar qualquer anormalidade na hora de atender os casos.

Mesmo com a pandemia, atendimentos presenciais serão retomados e visitas a outras famílias que tem situações parecidas serão reforçadas.

Foi a maneira que o prefeito encontrou para dar conta de uma crise que não foi causada por ele.

O fato é: o menino teve sorte em sobreviver.

Com quem ele vai ficar?

Não se sabe ainda. O Ministério Público, por meio da Vara da Infância e Juventude, diz que ainda é muito cedo para avaliar se algum familiar tem condições de ficar com o garoto.

Por enquanto, ele segue no abrigo.


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