Especial | O caos no trânsito de Campinas: obras travam rodovias e avenidas

O trânsito de Campinas vive um caos eterno. Quando alguma coisa é feita para amenizar o problema, outra aparece para piorar. A cidade tem vários pontos de estrangulamento que aparentemente passam à margem das autoridades. Mas será que o campineiro utiliza rotas alternativas ou há a falta delas?

Um dos piores pontos da cidade no momento é a Avenida das Amoreiras, na altura da Vila Rica. A obra do Corredor BRT Ouro Verde deixou apenas uma faixa de rolagem em cada sentido, fazendo com que ônibus, carros e caminhões passem todos juntos e ainda têm que esperar um semáforo bastante demorado no cruzamento da Avenida Senador Lacerda Franco, no final do Jardim do Lago. Os leitores do ODC estão reclamando bastante do tempo que os ônibus que partem da região do Ouro Verde em direção ao Centro ficam parados na via, sobretudo na hora de pico.

É fato que “sem transtorno, não há progresso”. Isso é dito constantemente em todos os lugares do mundo. Em 2011 a reportagem do ODC visitou o sistema BRT de Bogotá, na Colômbia, e nos foi falada exatamente essa frase. Na época da abertura dos corredores, a população também reclamou muito, mas não havia muito o que ser feito. E no caso de Campinas, pode-se dizer que é a mesma coisa ou há uma ingerência da EMDEC em relação ao assunto? Quando visitamos a região, no feriado de finados, os semáforos não haviam sido reprogramados e caso o trânsito estivesse aberto no sentido Amoreiras, seria um caos absurdo. Os amarelinhos estavam apenas olhando a pequena movimentação, até porque o fluxo ainda era bastante pequeno. Por conta disso, consultamos a EMDEC para saber o posicionamento dela em relação a esse trânsito caótico na região e ela nos respondeu. Veja a resposta no final da matéria.

RODOVIA SANTOS DUMONT
Os leitores do ODC também estão reclamando bastante das obras na Rodovia Santos Dumont, que têm deixado o trânsito praticamente parado nas horas de pico. Na semana passada passamos pelo local e o trânsito estava congestionado por praticamente todo o perímetro urbano de Campinas, com reflexos inclusive nas vias laterais. O caos na região do Parque São Paulo beira o absurdo. Fila de ônibus e de carros querendo entrar e sair ao mesmo tempo transforma a área em um ponto bastante caótico.

Os usuários do transporte público também reclamam bastante dos problemas na via e do tempo em que ficam parados nos congestionamentos. Há um tempo foi dito que seriam construídas vias marginais para melhorar a fluidez no trânsito mas nada foi feito até o momento. Procuramos a AB Colinas, concessionária desse trecho da rodovia, que também nos respondeu. Logo no final da matéria, confiram a resposta.

RODOVIA ANHANGUERA
Apesar da construção de quilômetros de vias marginais, a Anhanguera segue com alguns pontos de estrangulamento de trânsito. Um deles está concentrado na ponte sobre a Avenida John Boyd Dunlop. Ali há um estreitamento de pista à esquerda para que uma das faixas fique totalmente liberada para quem vem da avenida, e isso causa grandes congestionamentos, sobretudo nas horas de pico. Na semana passada a reportagem do ODC passou pelo local e ficou parada quase uma hora apenas entre a Cidade Jardim e o Jardim Aurélia, trecho que deveria ser percorrido em cerca de 4 ou 5 minutos. Chovia na hora, o que agravou a situação.

Do outro lado da pista há um ponto de estrangulamento na mesma situação, porém a responsabilidade maior é da cidade de Campinas. Com os carros saindo da rodovia para entrar na John Boyd, próximo ao cruzamento com a Avenida Transamazônica, o trânsito fica sempre parado nas horas de pico. Não há vazão suficiente para os carros ali e isso deve piorar com o avanço das obras do BRT nos próximos meses. Está prevista a construção de uma trincheira nesse cruzamento, o que deverá fazer com que a via fique fechada por um tempo. Com a trincheira, quem segue pela John Boyd passará por baixo da Transamazônica, acabando com o problema ali. Com o BRT, a via deverá ser alargada, melhorando sensivelmente o trânsito desse lado da Anhanguera. Também procuramos a CCR AutoBAn, que muito solícita nos respondeu. A resposta pode ser conferida logo abaixo.

RODOVIA JORNALISTA FRANCISCO AGUIRRE PROENÇA (SP-101)
Os problemas na mais conhecida como Rodovia Campinas-Monte Mor são mais antigos e parecem nunca ter solução. Após uma duplicação tardia e demorada, o aumento do fluxo na via continuou a causar congestionamentos, principalmente nas horas de pico. Obras de recapeamento em vários trechos agravam ainda mais a situação. Por enquanto, as obras que estão sendo feitas na região do complexo penitenciário não impactam tanto o trânsito, mas logo deverá causar mais transtornos.

O principal ponto de estrangulamento da via é justamente em seu início/final, no chamado Trevo da Bosch. Os problemas ali são históricos. Antes da reformulação da rotatória para trevo, o trânsito já era bastante complicado, mas parece não ter solucionado a questão ali, pois ficam travados os trânsitos da SP-101 e da Via Anhanguera, no sentido Capital, para quem quer entrar em Campinas.

Por conta de tudo isso, os ônibus que transitam entre Campinas, Hortolândia e Monte Mor ficam muito tempo parados, causando grandes atrasos e problemas aos passageiros que querem chegar em casa ou ir para o trabalho. No pico da tarde, os grandes congestionamentos causam atrasos constantes nos ônibus que saem do Terminal Metropolitano em Campinas. Consultamos a Rodovias do Tietê, concessionária da SP-101, mas até o fechamento desta matéria não recebemos resposta.

AFINAL, DE QUEM É A CULPA?
Nos últimos anos, as rodovias que foram concedidas receberam várias melhorias, algumas delas não tão eficientes mas foram feitas. O correto seria que as cidades fizessem grandes avenidas de interligação entre elas, e que as rodovias fossem usadas apenas para o trânsito de veículos em viagem. Nas regiões metropolitanas a construção de grandes avenidas é fundamental. Em São Paulo pode-se destacar a Avenida do Estado, que liga várias cidades. Saturada ou não, ela existe e faz essa ligação.

Na região de Campinas o ideal seria que fossem construídas avenidas e vias expressas partindo ou passando pelos bairros, chegando nas cidades mais próximas. Isso faria com que os eixos de deslocamento mudassem e até um corredor de ônibus mais eficiente fosse construído. Também seria necessária a construção de uma linha férrea para o transporte de passageiros em massa. O projeto do Trem Intercidades existe desde a década de 70 mas só sai da gaveta nos períodos eleitorais (como aconteceu este ano). Depois, volta par a gaveta e fica mofando por mais quatro anos.

As cidades têm a obrigação de investir na melhoria da mobilidade urbana nas regiões metropolitanas e não jogando tudo nas costas das concessionárias de rodovias.
Também cabe aos motoristas particulares procurarem vias alternativas de deslocamento, principalmente onde há obras. Hoje existem várias ferramentas que podem ser usadas, como o Waze, e fugir dos trânsitos praticamente parados.

AS RESPOSTAS

EMDEC – AVENIDA DAS AMOREIRAS
As intervenções motivadas pela obras de implantação dos corredores BRT (Bus Rapid Transit – Ônibus de Trânsito Rápido) no município são realizadas de modo a causar o menor impacto possível para a população. A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) adota a estratégia de elaborar planos operacionais e de comunicação para todas as intervenções, que são previamente implementados, antes do início efetivo das obras. Além disso, agentes da Mobilidade Urbana da Emdec circulam pelas regiões com obras, monitorando o trânsito e auxiliando na segurança e fluidez da circulação viária; e os tempos semafóricos de cruzamentos das vias com interdições também são reprogramados.

Vale ressaltar que as obras que demandam intervenção nas vias são realizadas em etapas, por trechos gradativos, justamente para minimizar os impactos à população. A interdição parcial das vias é executada no momento em que se torna inevitável para a continuidade dos serviços, que avançam rapidamente conforme o cronograma previsto.

Os ônibus que cumprem itinerário na Amoreiras continuam circulando pela avenida, sem a necessidade de desvio de itinerário, minimizando os transtornos para os usuários. Os pontos existentes no trecho em obras foram transferidos para as marginais da avenida. O monitoramento das viagens é feito pela nossa central. Além disso, os agentes acompanham as saídas e chegadas dos veículos nos terminais urbanos.

Os usuários do transporte público contam com o aplicativo “Busão na Hora”, que informa, em tempo real, a chegada do veículo no ponto de ônibus, itinerário, acessibilidade, entre outras funcionalidades. A população também pode denunciar eventuais problemas do sistema de transporte pelo telefone da Emdec, no número (19) 3772-1517, que atende 24h por dia, todos os dias da semana. É importante informar data, horário e prefixo do veículo.

Aos motoristas de veículos particulares, a Emdec orienta que evitem, se possível, circular pela região em obras, adotando as rotas alternativas sugeridas. No sentido Centro – bairro, os motoristas que trafegam pela Amoreiras com destino ao Centro de Integração Social Tancredo Neves (“Tancredão”) devem acessar a Avenida Francisco de Paula Oliveira Nazaré, contornar a Praça Maria Amélia Botelho Barbosa e acessar as vias Jacinta Rosa de São José, João Batista Pupo de Morais, Maria Bibiana do Carmo, Edmundo Navarro de Andrade, Ituverava, Franco da Rocha, Martinópolis, Mirandópolis e Presidente Juscelino. Na sequência, devem fazer o retorno no “Balão do Laranja” para acessar o sentido oposto da Juscelino, seguindo pelas vias Bragança Paulista e Mogi Mirim.

Ainda no sentido Centro – bairro, os motoristas que têm como destino a região do Ouro Verde e Hipermercado Extra Amoreiras devem considerar o mesmo percurso da primeira rota até o Balão do Laranja. Neste ponto, deverão prosseguir pela Avenida Presidente Juscelino até acessar a Ruy Rodriguez.

No sentido bairro – Centro, os motoristas que vêm da região do Hipermercado Extra Amoreiras, ao invés de acessarem a Amoreiras pela Rua Piracicaba, devem seguir pelas vias Ruy Rodriguez, Presidente Juscelino, Mirandópolis, Dr. Artur Leite de Barros Jr., Martinópolis, Franco da Rocha, Ituverava, Maria Bibiana do Carmo e Francisco de Paula Oliveira Nazaré, até alcançarem o trecho da Amoreiras após a Rodovia Anhanguera.

Para os motoristas que preferem trafegar pela Rua Piracicaba, há duas rotas alternativas possíveis, no sentido bairro – Centro. A primeira abrange as vias Cosmópolis, Bragança Paulista, Itatiba, Presidente Juscelino, Mirandópolis, Dr. Artur Leite de Barros Jr., Martinópolis, Franco da Rocha, Ituverava, Maria Bibiana do Carmo, Francisco de Paula Oliveira Nazaré e Amoreiras. A segunda compreende as vias Cosmópolis, Amoreiras, “Tancredão”, João José Pereira, Verbenas, Dionízio Cazotti, Perpétuas, Senador Antônio Lacerda Franco, Adão Focesi, Moises Gadia, Dom Joaquim Mamede da Silva Leite, acessando a Amoreiras na sequência. A partir do acesso à Rua João José Pereira, o mesmo trajeto é válido para os motoristas que vêm da Rua Nelly Bonturi, subindo pelo “Tancredão”. Ao chegarem na Amoreiras, os motoristas que optarem por essas rotas irão transitar por um pequeno trecho em obras, até chegar à Anhanguera.

A implantação dos corredores BRT é a principal obra na área de Mobilidade Urbana que Campinas recebe, desde a década de 1970. É uma obra de grande importância para o transporte público coletivo do município, que irá beneficiar, diretamente, 450 mil pessoas, mais de um terço da população da cidade, residentes nos distritos do Ouro Verde e Campo Grande. Uma obra viária que envolve a construção de 36,6 km de corredores exclusivos para ônibus, com custo de R$ 451,5 milhões.

Especificamente sobre o trecho na região da Amoreiras, desde a Rua Bragança Paulista até o cruzamento com a Rodovia Anhanguera, as obras do Corredor BRT Ouro Verde abrangem a construção do Terminal Campos Elíseos, das Estações de Transferência Vila Rica e Anhanguera, além de pavimento de novo corredor para os veículos BRT.

Toda grande obra gera transtornos momentâneos. Mas, com a efetiva implantação dos corredores BRT, os ganhos para a Mobilidade Urbana no município serão imensos.

AB COLINAS – RODOVIA SANTOS DUMONT
A AB Colinas informa que o trecho entre o km 70 e km 77 da SP-075 recebeu recentemente obras de revitalização do pavimento (recapeamento) e da sinalização horizontal (pintura e tachas refletivas). Os trabalhos, que faziam parte das obras de recapeamento de toda a extensão da via, com investimento total de R$ 79 milhões, estão finalizados na pista. Atualmente as obras acontecem somente nos trevos de retorno existentes.

Dos serviços que ainda ocorrerão nas faixas da rodovia, estão previstos alguns trabalhos pontuais de manutenção que serão realizados, em sua maioria, no período noturno ou aos finais de semana, para impactar o mínimo possível no trânsito da região.

A concessionária sempre informa, por meio dos seus painéis eletrônicos de mensagens e pelo mapa interativo existente em seu site, os trechos que estão passando por obras na rodovia, a fim de auxiliar os usuários na busca por rotas alternativas.

Para desafogar o tráfego na região, a concessionária possui um projeto para ampliação das marginais da rodovia no trecho em questão, porém a obra não está prevista no contrato de concessão. Contudo, este projeto está aprovado e a concessionária aguarda a inclusão dele no contrato de concessão por parte da Artesp (Agência Reguladora de Transportes do Estado de São Paulo).

CCR AUTOBAN – RODOVIA ANHANGUERA
A CCR AutoBAn realizou obras de modernização e ampliação da capacidade de tráfego da Via Anhanguera (SP-330), com a implantação de faixas adicionais e vias marginais em quase todo o trecho da rodovia que corta Campinas, além de obras nos principais trevos, conforme previsto no contrato de concessão celebrado com o Governo do Estado em 1998.

As vias marginais foram implantadas com o objetivo de segregar o tráfego urbano do rodoviário, aumentando, assim, a capacidade de tráfego da rodovia.

O trecho citado tem alto volume de tráfego, marcado principalmente pelo deslocamento de veículos dentro do próprio município (entre bairros de Campinas). Além disso, as principais avenidas de entrada à cidade neste trecho também possuem grande volume de tráfego, o que traz reflexos na fluidez da marginal da Via Anhanguera.

Existe a necessidade de novas travessias de viários municipais sobre a Via Anhanguera (SP-330) para ligação do lado oeste para o lado leste do município, já indicadas no Plano Diretor de Campinas, inclusive.

Assim, a solução de implantação de novas travessias do sistema viário municipal pode contribuir para a solução adequada dos problemas apontados, uma vez que distribui o tráfego por meio de outras vias.

RODOVIAS DO TIETÊ – SP-101
Até o momento, a concessionária não respondeu aos nossos questionamentos.

Da Redação ODC.


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