Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca)*, no Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, apenas atrás do câncer de pele não-melanoma. Em 2018, estima-se que 68.220 homens descobriram o câncer de próstata e 15.391 morreram da doença. Para o urologista doutor Davidson Bezerra da Silva, docente do curso de Medicina da Anhembi Morumbi, integrante da rede internacional de universidades Laureate, o fator que mais contribui para as mortes é o preconceito acerca do exame de diagnóstico. “O único modo de descobrir a doença precocemente é fazendo o exame de toque periodicamente após os 50 anos. É preciso deixar de lado o preconceito e pensar que, com esse rastreio de prevenção, a pessoa garante sua saúde, inclusive, sexual”, enfatiza.
Para sanar as dúvidas mais frequentes, o especialista respondeu algumas questões:
Qual a diferença entre o exame de sangue e o de toque, no sentido de diagnóstico preciso e precoce?
No exame de sangue dosamos o PSA, que é uma proteína produzida quase que exclusivamente pela próstata. Além do câncer de próstata, várias alterações prostáticas podem levar ao aumento no valor do PSA, entre elas, destacam-se a Hiperplasia Prostática Benigna, que como o próprio nome diz, é um crescimento benigno da próstata, presente em quase 50% dos homens com idade superior a 50 anos, e a Prostatite, que se trata de uma inflamação da próstata. Já a realização do toque retal, apesar de desconfortável, é fundamental, pois a detecção de qualquer alteração prostática (endurecimento e/ ou presença de nódulos) é indicativo da necessidade da realização de biópsia de próstata (que confirma a presença do câncer de próstata) via ultrassonografia retal. Nos dias após o procedimento, pode haver desconforto com presença de sangue na urina e/ ou no sêmen, bem como infecção na próstata, tendo a necessidade, em alguns casos, de tratamento com antibiótico. É possível a utilização de exames de imagem em paciente com indicação clínica para biópsia, como a ressonância magnética multiparamétrica de próstata, que pode indicar a probabilidade de encontrar um câncer de próstata significativo utilizando a escala PI-RADS, porém, apenas sugere, não sendo possível fechar o diagnóstico.
O exame de toque também serve para identificar outras doenças ou neoplasias benignas? Quais?
O toque retal serve para medir o tamanho da próstata, consistência (dureza, aspereza), presença (ou não) de nódulos, seus limites, se é dolorosa ao toque, entre outras alterações. Além disso, apesar de não ser o objetivo principal, aproveita-se o toque retal para a pesquisa de doenças orificiais, tais como hemorroidas e fissura anal e avaliação da ampola retal (pesquisa de tumores do canal anal). É possível identificar também a Hiperplasia Prostática Benigna (crescimento benigno da próstata) pelo toque retal.
Com que idade o homem precisa começar o rastreio?
A Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que os homens iniciem a avaliação prostática, no intuito de rastrear o câncer da próstata, aos 50 anos. Porém, homens negros, obesos mórbidos ou que tenham parentes de primeiro grau (pai ou irmãos) com histórico de câncer de próstata, devem começar a avaliação aos 45 anos. A partir disso, a avaliação precisa ser realizada anualmente, por meio da dosagem de PSA (exame de sangue) e pelo toque retal.
O câncer de próstata está ligado a fatores genéticos?
Sim, o câncer de próstata está ligado a fatores genéticos. Homens que tenham um parente de primeiro grau (pai e irmãos) acometido pela doença têm chance duas vezes maior de também ter a doença. Caso tenham dois parentes de primeiro grau acometidos, a chance aumenta para seis vezes.
E quanto a alimentação? Há alguma prevenção?
Alguns estudos sugerem que o consumo de gordura de origem animal possa aumentar a chance do desenvolvimento do câncer de próstata, porém, ainda não foi comprovado que a diminuição do consumo possa proporcionar qualquer benefício em relação a esta doença, logo, ainda não há nenhuma prevenção comprovada.
Um paciente tratado com câncer, curado, pode ter sequelas? Quais?
Apesar de não serem comuns, pacientes submetidos ao tratamento curativo para o câncer de próstata podem ter algumas sequelas. No caso daqueles submetidos a cirurgia, as mais comuns são a disfunção erétil e a incontinência urinária. Já aqueles submetidos a radioterapia podem evoluir com ardor para urinar, sangramento na urina, sangramento nas fezes e disfunção erétil -, esta última pode surgir mais tardiamente, aproximadamente dois anos após o tratamento.
Este câncer pode ser seguido de uma metástase?
Sim, é possível. Os locais mais comuns de metástase são a coluna e linfonodos pélvicos. Cerca de 20% dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados em estágios avançados, justamente por não fazerem o exame de rastreio e quando os sintomas começam a aparecer, 95% dos casos já estão em fase adiantada. Caso o câncer seja diagnosticado em fase precoce, a chance de cura é de 90%. Por isso é muito importante realizar o exame anualmente a partir da idade indicada.
Como é o tratamento para o câncer de próstata?
O tratamento depende do estágio em que ele foi diagnosticado. Caso a doença esteja confinada à próstata, as duas principais opções de tratamento são: a prostatectomia radical, que é a retirada total da próstata, e a radioterapia pélvica, que tem o intuito de “queimar” o tumor. Se a doença estiver um pouco mais avançada (localmente avançada), porém, ainda não metastática, é possível a associação de radioterapia ao bloqueio hormonal, , a fim de obter melhor sucesso oncológico. Entretanto, no caso de doença metastática (quando o câncer se espalhou para outras partes do corpo), o tratamento restringe-se ao bloqueio hormonal.
Quais outras doenças da próstata são comuns e o que elas causam?
Além do câncer, as doenças mais comuns, que podem acometer a próstata, são a Hiperplasia Prostática Benigna e a Prostatite. Nos casos em que o paciente é portador de Hiperplasia Prostática Benigna, quando sintomática, o paciente precisa fazer força para urinar, o jato urinário é fraco, tem a sensação que reteve urina na bexiga mesmo após urinar e levanta muito a noite para ir ao banheiro.
Na Prostatite, além da dificuldade para urinar, o paciente também pode apresentar dificuldade para urinar, porém, pode apresentar também dor no ânus e/ou ao ejacular. Em casos mais graves, aparecem febre e indisposição podem estar presentes.
*INCA: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-prostata
**Davidson Bezerra da Silva, doutor em urologia pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Atualmente, é professor do curso de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi.
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