Nos últimos tempos um dos temas mais abordados pela prefeitura de Campinas tem sido o BRT. Mas afinal, o que é o BRT? O que ele vai trazer de benefício para a população? O tema ainda deixa muitas dúvidas e por isso procuramos esclarecer a maior parte delas nesta matéria especial.
No final da década de 70 o urbanista Jaime Lerner projetou para a cidade de Curitiba um sistema integrado de corredores exclusivos para ônibus, e para ele deu o nome de BRT, que significa em inglês Bus Rapid Transit (Ônibus de Trânsito Rápido). A ideia era alargar as principais avenidas da cidade e no meio delas colocar faixas para a circulação exclusiva de ônibus com o objetivo de agilizar as viagens dos passageiros.
Ao longo do tempo Curitiba recebeu novos corredores e o sistema foi se aprimorando, virando um modelo para todo o mundo. Hoje, o sistema BRT é usado por diversas cidades ao redor do mundo, algumas delas até com mais sucesso que a própria Curitiba, como por exemplo a capital colombiana Bogotá. O sistema Transmilenio é considerado um dos mais eficientes do mundo e contempla três grandes eixos de deslocamento por dentro de Bogotá.
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COMO FUNCIONA O BRT
O sistema BRT basicamente é formado pelos seguintes equipamentos:
– Corredores exclusivos
– Ônibus convencionais, articulados e biarticulados
– Terminais de integração
– Estações de transferência
– Linhas troncais expressas
– Linhas troncais semi-paradoras
– Linhas troncais paradoras
– Linhas alimentadoras
– Pátios de descanso e manutenção
– Trincheiras ou viadutos
– Centro de Controle Operacional (CCO)
Os ônibus articulados e/ou biarticulados circulam pelas vias exclusivas que são instaladas no meio das avenidas (igual a Avenida das Amoreiras). Esses ônibus fazem basicamente um único itinerário (um extremo ao outro do corredor) e não possuem catracas ou cobradores. Obrigatoriamente os ônibus param em todas as estações / pontos do corredor, mesmo que não for embarcar ou desembarcar ninguém. A tarifa / passagem é paga para os cobradores que ficam nessas estações de parada. Em sistemas mais modernos, há um guichê nas estações de parada onde o passageiro compra seu bilhete, passa-o em uma das catracas e entra na estação, sempre cobertas e com portas automáticas, e ali aguarda seu ônibus.
As linhas desses ônibus articulados e/ou biarticulados possuem obrigatoriamente três derivações:
- Linha paradora – Linha que vai parar em todos os pontos do corredor, tanto para embarque quanto para desembarque.
- Linha semi-paradora – Linha que vai parar apenas nos pontos de maior movimento, tanto para embarque quanto para desembarque (vem identificada no itinerário)
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Linha expressa – Linha que não para em nenhum ponto do corredor, apenas embarca os passageiros no terminal inicial e desembarca-os no terminal final, no outro extremo do corredor.
Em alguns pontos do corredor serão feitos terminais, mini-terminais ou estações de transferência, onde vão parar também as linhas alimentadoras, que são as linhas que fazem itinerários dentro dos bairros ao redor do corredor e levam os passageiros até esse terminal / mini-terminal / estação de transferência, onde deverão pegar um dos ônibus articulados ou biarticulados para concluir seu destino, sem o pagamento de nova tarifa.
Em Campinas já há alguns sistemas que funcionam mais ou menos dessa forma, como nos terminais Barão Geraldo, Ouro Verde, Vida Nova e Campo Grande. Nessas linhas alimentadoras circulam os ônibus convencionais com catracas internas, e quando desembarcam nos terminais de integração, não precisam pagar de novo.
Os corredores são construídos com trincheiras nos cruzamentos. As trincheiras são viadutos que acabam com os cruzamentos diretos, ou seja, geralmente os ônibus passam por baixo e os carros por cima. Dessa forma, os ônibus não precisam parar nos cruzamentos, em semáforos ou outros equipamentos que atrasam as viagens, já que nessas avenidas a prioridade é do ônibus.
Geralmente os terminais dos extremos dos corredores possuem pátios onde os ônibus ficam estacionados aguardando horário ou como reservas, já que em um sistema organizado não pode haver atrasos. Caso aconteça algum imprevisto com algum ônibus no corredor, imediatamente um ônibus do pátio deve ser colocado na linha para cobrir o horário seguinte. Isso é organizado através do Centro de Controle Operacional, ou simplesmente CCO. Nele, agentes de trânsito e transportes monitoram a circulação dos ônibus em todos os corredores, sabendo se haverá atraso ou algum outro tipo de imprevisto. É ele que informa diretamente ao fiscal de campo, localizado nos terminais, o que deve ser feito de imediato.
Em um sistema BRT todos os ônibus são equipados com sistema de GPS e painel de comunicação para que o motorista reporte ao CCO algum acontecimento no itinerário. Os ônibus podem ou não ser equipados com ar condicionado, TV, rádio FM, mas todos possuem paineis internos e sistema de som que informam as próximas paradas. Nas estações também há paineis que informam os próximos ônibus que estão chegando e qual tipo de linha estão operando (paradora, semi-paradora ou expressa). Os ônibus dos corredores não possuem escadas e por isso podem ser com porta alta (no nível da estação) ou porta baixa (piso rebaixado na altura da calçada).
COMO VAI SER EM CAMPINAS?
Em Campinas o projeto, chamado de BRT Rapidão, contempla três corredores exclusivos: um na Avenida John Boyd Dunlop, com início na Ponte do VLT na Vila Teixeira e final no Terminal Itajaí, outro nas avenidas João Jorge, Amoreiras, Ruy Rodrigues, Camucim e Rua Piracicaba, com início no Viaduto Cury e final no Terminal Vida Nova, e outro no antigo leito do VLT, entre as antigas estações Vila Rica e Central.
O corredor será construído no centro dessas avenidas, com as estações na faixa central e embarque por portas à esquerda, assim como é no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e também no Corredor Central e na Avenida Lix da Cunha em Campinas. Os passageiros vão pagar a passagem ainda no ponto de parada, entrarão na estação e aguardarão lá dentro o ônibus.
O embarque será elevado, com ônibus sem escadas e portas altas, assim como é no Rio de Janeiro. Algumas linhas terão ônibus mistos, com portas dos dois lados. Duas linhas que vão operar desse jeito já foram definidas: a 116 e a 134, que circularão pelos corredores da Ruy Rodrigues em alguns pontos e também pelo da John Boyd Dunlop. Quando chegarem no final do corredor, vão seguir os itinerários normais com embarque à direita.
De acordo com o edital do projeto, os ônibus do corredor do Campo Grande terão o itinerário modificado. Ao invés de seguirem adiante na Avenida John Boyd Dunlop no sentido Centro, pelo Balão do Santa Catarina / Barão de Monte Alegre / Sales de Oliveira, os ônibus vão até a ponte do VLT, onde será feito um viaduto de interligação, já que ali passará o Corredor Perimetral. Os ônibus entrarão pelo viaduto nesse segundo corredor e vão seguir por ele até o Centro, com ponto final próximo ao atual Terminal Mercado.
As linhas de bairro que hoje vão para o Centro serão todas cortadas e pararão nas estações de transferência. Um exemplo são as linhas da região do Jardim Florence, que serão todas cortadas na futura estação da Pirelli. Ali deverão fazer ponto final as linhas do Florence, Rossin e Sirius. Dali, os passageiros embarcam gratuitamente nos articulados que virão do Campo Grande.
• IMPORTANTE – A reorganização das linhas ainda será feita, ou seja, não tem nada totalmente definido, apenas um rascunho foi feito. Perto da inauguração teremos já a relação das linhas e como serão operadas. Poderão acontecer também alterações nos projetos das obras. O que está relatado aqui é referente à última versão do projeto, disponível no site da Prefeitura.
Os ônibus terão nova pintura que ainda será definida, mas já se sabe que as cores das áreas operacionais deverão ser mantidas.
No corredor da Avenida das Amoreiras haverá uma reforma, pois os pontos à direita serão transferidos para o centro da avenida. Ali as obras deverão ser mais simples pois já existe o corredor. Os maiores problemas deverão ser na Avenida John Boyd Dunlop, onde haverão viadutos e trincheiras nos cruzamentos com as avenidas José Pancetti (no Unimart / Enxuto), Transamazônica e no Jardim Londres (próximo ao Covabra), que são três dos maiores gargalos da cidade. Quando as obras começarem, será necessária muita paciência.
Os terminais finais do BRT serão o Central, Ouro Verde, Vida Nova e Itajaí (nos mesmos lugares onde estão hoje), Mercado (será parcialmente transferido para a Radial Penido Burnier) e o Campo Grande (terminal novo será construído em frente ao Posto Ipiranga, no final da John Boyd).
O projeto executivo final ainda está sob análise e poderá sofrer modificações até o início das obras.
MAS E QUEM PEGAR O ÔNIBUS NO MEIO DO CAMINHO? VAI PEGAR ELE LOTADO?
Não necessariamente. Por isso que existem três tipos de linhas. A expressa será para quem pega nos terminais e vai direto para o Centro. A paradora será para todos que pegam no meio do caminho, portanto, mais lenta, e a semi paradora que vai parar apenas nos pontos principais (geralmente nas estações onde há as linhas alimentadoras). Nas horas de pico serão colocados ônibus vazios para iniciar as viagens dessas estações onde há as linhas alimentadoras, assim os ônibus não circularão abarrotados de ponta a ponta, até porque o intervalo entre um ônibus e outro geralmente é baixo, entre 1 e 2 minutos, tudo controlado pelo CCO.
E O PAGAMENTO DA TARIFA?
Quem pegar o alimentador no bairro, paga normal dentro do ônibus. Ao chegar na estação, entrará por uma porta direta, sem ter que pagar de novo. No sentido oposto, pagará a passagem no ponto de parada e embarcará no corredor. Ao chegar na estação de integração, desembarcará e irá acessar o ônibus alimentador por uma porta direta, sem ter que pagar de novo.
OS ÔNIBUS SERÃO TROCADOS?
Pelo menos os ônibus que vão circular nos corredores obrigatoriamente terão que ser trocados por causa das portas altas. Os que circulam atualmente deverão ser remanejados para outras linhas ou desativados, pois até lá já terão completado a idade limite de operação.
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