A prefeitura de Campinas iniciou nesta última quinta-feira, dia 26/09, o manejo para controle das capivaras que vivem em parques públicos da cidade. São quatro parques que têm capivaras em suas instalações.
Por se tratar de fauna silvestre, o manejo é solicitado e submetido a análise da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil).
Na primeira fase do projeto, serão esterilizadas cerca de 200 capivaras que vivem livremente no Parque Portugal (Lagoa do Taquaral), Lago do Café, Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim e Parque das Águas.
A gestão do projeto é da Secretária do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade (Seclimas), que realizou duas licitações: uma para contratação de serviço médico veterinário cirúrgico de vasectomia e salpingectomia (laqueadura) e, outra, para prestação de serviço de ceva, captura, manejo pré e pós-cirúrgico e posterior soltura aos parques de origem.
A coordenação e fiscalização dos trabalhos está sob responsabilidade do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal (DPBEA).
O secretário do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade (Seclimas), Rogério Menezes, destaca o trabalho conjunto de diferentes setores da Prefeitura para combater a transmissão da febre maculosa.
“Estamos diante de um manejo inédito e, mais uma vez, Campinas se tornará referência com a iniciativa. As secretarias do Clima, de Saúde e de Serviços Públicos trabalhando de mãos dadas para proteger a população e prevenir essa doença grave que é a febre maculosa. E, ao mesmo tempo, respeitando todos os quesitos técnicos para o manejo, ou seja, para a proteção também da capivara, um animal silvestre que é protegido por lei”.
Centro de Manejo
As cirurgias dos grupos de capivaras do Lago do Café e do Parque Taquaral serão realizadas no centro de manejo especialmente construído para este fim na Lagoa do Taquaral. São dois recintos onde os animais passarão pelo procedimento cirúrgico e, depois, cumprirão o período de recuperação. As instalações foram concebidas pelo Departamento de Parques e Jardins (DPJ) de acordo com as diretrizes estabelecidas pela Semil. Outros parques receberão estruturas de centro cirúrgico móvel para otimizar o manejo e evitar o stress que seria gerado no embarque, transporte e desembarque dos animais, além de diminuir a possibilidade de dispersão de carrapatos e da própria bactérias causadora da febre maculosa.
As capivaras vivem em grupos, com uma estrutura social própria e, para evitar brigas e disputas por território, será manejado um grupo de animais por vez, independentemente do número de indivíduos. Os primeiros grupos que passarão pelo procedimento são os que vivem no Parque Taquaral, seguidos pelos do Lago do Café, Parque Ecológico e Parque das Águas.
O assessor do DPBEA, Rodrigo Pires, afirma que não é possível determinar quanto tempo deve decorrer entre captura, cirurgia, recuperação e soltura de cada grupo de capivaras. A estratégia para capturar os animais consiste em atraí-los com alimento, mas se eles vivem em um ambiente onde a oferta de comida é mais abundante, essa técnica pode demorar um pouco a surtir efeito. “Depende das condições climáticas, ambientais e até sociais do grupo. Tem grupo que é manso, está acostumado à presença humana, entra logo no brete, outros são mais difíceis, podem levar semanas para que sejam capturados”, explica.
Combate à febre maculosa
A Administração Municipal aposta na esterilização das capivaras como técnica auxiliar para prevenir a transmissão da febre maculosa, que pode ocorrer quando um carrapato se alimenta do sangue de um animal infectado, como a capivara (entre outros), e depois pica uma pessoa. A capivara não transmite diretamente a doença às pessoas.
De acordo com Rodrigo Pires, do DPBEA, ao impedir o nascimento de novos indivíduos, a médio prazo, o ciclo de transmissão da bactéria causadora da doença deve ser interrompido.
“Acreditamos que a medida pode ajudar a combater a transmissão da febre maculosa porque a capivara só transmite a Rickettsia uma vez na vida, depois disso, não transmite mais. Então, se mantivermos o grupo vivo no local, impedindo o nascimento de novos indivíduos, em algum momento, não teremos novas capivaras dando sequência ao ciclo da bactéria”, explica.
Além de evitar novos nascimentos, a ação visa também dificultar a entrada de novas capivaras nos parques. “O processo de vasectomia e laqueadura mantém os animais produzindo os hormônios normalmente e a estrutura social do grupo permanece a mesma, ao contrário da castração, que interrompe a produção de hormônios e o grupo se desestrutura socialmente, abrindo espaço para a entrada de outros indivíduos e grupos no local”, destaca Pires.
Febre maculosa
Em 2022 foram confirmados 11 casos de febre maculosa em Campinas, sendo nove delas com transmissão no município. Houve registro de sete mortes. No ano passado, foram 10 casos confirmados, nove com transmissão no município e também com sete óbitos. Em 2024, até o momento, há um caso registrado, com óbito.
A Febre Maculosa Brasileira (FMB) é uma doença grave, com alta letalidade, causada pela bactéria Rickettsia rickettsii. A infecção se dá pela picada do carrapato-estrela (Amblyomma sculptum) infectado com a bactéria causadora da doença. O período de incubação, desde a picada do carrapato até a manifestação dos sintomas, é de 2 a 14 dias.
O carrapato vetor está presente em áreas com vegetação, especialmente onde há presença de capivaras, cavalos ou outros animais silvestres. Eles infestam principalmente capins, gramados e acúmulos de folhas secas caídas. Nesses locais há intensa associação entre o ambiente e o carrapato vetor; quando os seres humanos frequentam ambientes com a presença do carrapato-estrela infectado a transmissão da FMB pode ocorrer.
A Secretaria Municipal de Saúde mantém um banner no Portal da Prefeitura, disponível em https://campinas.sp.gov.br/sites/febremaculosa/inicio, em que estão disponíveis várias informações sobre a febre maculosa e tudo o que é preciso saber para proteção e saúde.
Capivaras
De acordo com a Semil, as capivaras são animais que se adaptam bem à presença humana. Seu ambiente preferido é área de várzea, onde há água, importante para regular a temperatura corporal e escapar dos predadores. Para se alimentar, fazem uso de gramíneas e produtos agrícolas, como cana-de-açúcar, milho, arroz, e outros.
Consideradas os maiores roedores do mundo, são criaturas sociáveis, vivem em grupos, com uma organização complexa, que contam com um líder. As fêmeas se reproduzem duas vezes ao ano e podem gerar de um a oito filhotes por gestação.
Da Redação ODC.
Leia também: Dicas da Cidade | Visitamos um dos mais novos mercados da cidade, e fomos supreendidos positivamente