Em agosto de 2011 fomos convidados pela encarroçadora Marcopolo a conhecer o sistema BRT (Bus Rapid Transit, ou Ônibus de Trânsito Rápido) da cidade de Bogotá, capital da Colômbia. Denominado de Transmilenio, o BRT de lá foi inspirado no pioneiro e exemplar sistema de Curitiba, como parte de um projeto do então prefeito Enrique Peñalosa de resgatar a capital colombiana.
O projeto inicial previa um corredor ligando os dois extremos da cidade.
Hoje já são quatro corredores que passam por várias partes da cidade, muitas delas carentes.
Como não é diferente de outros países, os ônibus articulados de Bogotá sofrem com o vandalismo.
São vidros riscados, quebrados, bancos rabiscados, alçapões retirados, saídas de emergência acionados sem necessidade, além de vários outros problemas.
Mas nesse caso, o que é feito?
Lá em Bogotá, no extremo de cada corredor BRT há uma espécie de “ponto de apoio”, chamado de “Portal”, que é compartilhado por todas as empresas que operam naquele trecho.
Nesses pontos há lavatórios, espaço para descanso dos motoristas, um centro de controle operacional, refeitório, estacionamento organizado e uma mecânica com vários elevadores pneumáticos e valas.
Quando um ônibus é vandalizado, o motorista comunica a Central de Controle mais próxima no seu sentido e assim que chega ao terminal final o veículo é conduzido a esse ponto de apoio.
Lá, o veículo é imediatamente reparado e volta para a linha apenas quando estiver totalmente recuperado.
O coordenador do ponto de apoio que visitamos e nos apresentou todo o espaço disse que lá há uma cultura no seguinte sentido: quanto mais vandalismo, mais sujeira, as pessoas tendem a ser influenciadas por isso e podem fazer o mesmo, agravando a situação.
Por esse motivo, o veículo que é vandalizado ou sujo é orientado a ser recolhido no término da linha (e obviamente um outro veículo que já está nesse ponto de apoio estacionado como reserva entra no lugar) para ser reparado, independentemente do horário.
São trocados vidros, pneus, bancos são limpos, os ônibus são lavados por dentro e por fora, além de outros pequenos reparos.
Aqui em Campinas, o edital do sistema InterCamp exigiu que as empresas tivessem garagens dentro de suas áreas operacionais (com o objetivo de limitar a concorrência, algo que já foi questionado pela justiça e que já fez com que a prefeitura fosse obrigada a abrir outro edital, algo que não aconteceu até agora e nem vai acontecer).
As únicas empresas que utilizam as garagens da forma como deveriam são a Itajaí (recolhe os ônibus no final da linha do Terminal Campo Grande), a Campibus (usa como ponto de conexão as proximidades do Supermercado Enxuto – ali os ônibus são trocados quando apresentam problemas, o quebrado vai para a garagem e outro já está ali esperando para fazer o transbordo dos passageiros) e a Pádova (que recolhe os ônibus problemáticos no final das linhas de Sousas).
A garagem da Onicamp é mal localizada e prejudica esse tipo de operação.
Já a da VB3 é o cúmulo do absurdo. Seus ônibus ficavam na antiga garagem da Ensatur, no Jardim Leonor. Como ali é área 4 – Azul Escuro, quando saiu o InterCamp os ônibus dela tiveram que ser todos transferidos para a garagem da antiga Bonavita, no Bonfim, superlotando o espaço. Com linhas em quase todos os cantos da cidade, tal operação é impossível.
Já a VB1 tem localização estratégica no final do Terminal Ouro Verde e próximo ao Terminal Vida Nova, mas ela liberava ônibus quebrados para cumprir horário…
Hoje nem faz mais questão disso, queima horário e fim de papo.
A questão do vandalismo é algo cultural, uma coisa que não mudará tão cedo na mente dos usuários do transporte público.
Cabe ao poder público fazer campanhas de conscientização para que haja a conservação dos veículos já que é usado por praticamente todos os munícipes.
Já a manutenção é uma obrigação da empresa, pois ela é remunerada por isso.