Campinas, no interior de São Paulo, é uma cidade cheia de histórias e curiosidades. Para alguns, ela é a “Cidade das Andorinhas” ou a “Princesa do Oeste”, mas em tempos mais recentes, Campinas se destacou como um dos maiores polos LGBTQIAP+ do Brasil. Mas o que gerou essa fama? E o que torna a cidade tão relevante para a comunidade LGBTQIAP+?
Carlito ficou especialmente conhecido após um baile de carnaval, onde se fantasiou de mulher com seus amigos e participou de festas em cidades vizinhas. Esse episódio gerou grande repercussão, especialmente depois da publicação de uma foto sua beijando outro homem na revista O Cruzeiro. Essa imagem se tornou um símbolo da liberdade sexual e da resistência aos padrões conservadores, marcando Campinas como um ponto de ruptura e aceitação.
Outro fator importante é o processo de urbanização que Campinas passou no início do século XX. Enquanto a elite local imitava os modos de vida europeus, em especial os franceses, os trabalhadores imigrantes, principalmente os italianos, viam esses hábitos com desconfiança. Esse contraste gerou estigmas que acabaram por associar o comportamento afeminado à classe alta, contribuindo para a construção da identidade de Campinas como uma cidade de diversidade.
Atualmente, Campinas se destaca como um dos maiores centros de apoio à população LGBTQIAP+ no Brasil. A cidade é sede de diversas iniciativas que buscam promover a inclusão, como a Escola Jovem LGBTQIAP+, que oferece cursos gratuitos de teatro, dança, canto e comunicação digital para jovens da comunidade. Fundada por Deco Ribeiro, essa escola reflete o papel da cidade como um símbolo de acolhimento, educação e resistência para a população LGBTQIAP+.
Um aspecto que destaca ainda mais Campinas como referência na luta pelos direitos civis da população LGBTQIAP+ é o fato de a cidade ter registrado um grande número de casamentos entre pessoas do mesmo sexo nos últimos anos. Desde a legalização da união civil homoafetiva no Brasil, em 2013, Campinas foi responsável por 51,6% dos casamentos na região, somando 1.133 casamentos até 2023. Isso evidencia a forte presença da comunidade LGBTQIAP+ e a aceitação que Campinas tem demonstrado ao longo dos anos.
Em um contexto mais amplo, é interessante observar a comparação de Campinas com outra cidade do Brasil que também é reconhecida por sua forte presença LGBTQIAP+, Pelotas, no Rio Grande do Sul. Ambas as cidades competem pelo título de “capital gay” do país, e, enquanto Pelotas possui uma história semelhante de acolhimento, Campinas se destaca, especialmente, pela quantidade de eventos e movimentos culturais voltados para a população LGBTQIAP+. A disputa entre essas duas cidades, embora muitas vezes vista de forma simbólica, reflete o crescente protagonismo das cidades brasileiras na promoção de direitos e visibilidade da comunidade.
Em 2023, o Brasil celebrou uma década de avanços no campo dos direitos civis da população LGBTQIAP+, com a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, consolidada por uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2013. Campinas, com seus 1,2 milhão de habitantes, teve um papel de destaque nesse processo, refletindo a evolução do país em termos de aceitação e reconhecimento da diversidade sexual e de gênero.
Com sua história rica e seu papel ativo na luta pelos direitos LGBTQIAP+, Campinas continua a ser um exemplo de resistência, inclusão e acolhimento para a comunidade no Brasil. Seja pela memória de Carlito Maia ou pelas novas iniciativas culturais e educacionais, Campinas se consolidou como um pilar fundamental da diversidade e da cultura LGBTQIAP+ no Brasil.
(Com informações da Revista Piauí, g1 Campinas, Manual do Homem Moderno e foto retirada do site Campinas Nostálgica)