Edital do transporte de Campinas está sob suspeita de direcionamento para empresas ligadas à eletricidade

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A insistência da prefeitura de Campinas em colocar veículos elétricos para circular nas ruas da cidade após a licitação do transporte coletivo urbano começou a gerar desconfianças, inclusive da Justiça. A suspeita é que o edital esteja sendo direcionado para beneficiar duas empresas: a BYD e a CPFL. As suspeitas começaram a crescer depois que o item descabido sobre a exigência de compra de uma série de ônibus articulados elétricos foi mantido no edital. Lembrando que no Brasil nenhuma empresa fabrica esse tipo de veículo.

A chinesa BYD tem sua base de pesquisa instalada em Campinas e ainda está andando em passos muito curtos. Sua pequena fábrica, localizada dentro do Terminal Intermodal de Cargas, fabrica quase que artesanalmente seus poucos chassis que são vendidos para algumas empresas brasileiras. Uma venda de mais de duas centenas de ônibus elétricos iria representar um salto enorme nas vendas da empresa no país.

A fábrica em Campinas foi inaugurada em meados de 2015, pouco antes da reeleição do prefeito Jonas Donizette. Uma série de promessas foram feitas na época, porém é fato que de lá pra cá, a BYD cresceu muito pouco. Houve vendas relevantes como as unidades dos ônibus elétricos para São Paulo, mas ainda é uma gota no oceano: menos de duas dezenas de veículos em um oceano de mais de 10 mil ônibus.

Com um edital exigindo um monte de veículos elétricos, a BYD seria a principal beneficiária dessa situação pois é a única a estar apta para a fabricação desses ônibus. Na primeira audiência pública realizada, representantes da Scania estiveram presentes e questionaram se poderiam ser usados veículos movidos a combustíveis alternativos, já que a marca disponibiliza ônibus movidos a gás metano, e na época foi dito que “será aceito o que estiver previsto em edital”, sem dar mais detalhes.

Outra empresa beneficiada diretamente com o uso de ônibus elétricos na cidade seria a CPFL Paulista, empresa onde o secretário de transportes, Carlos José Barreiro, trabalhou como diretor de distribuição da companhia entre 1998 e 2000, quando saiu para ser diretor-presidente na Sociedade Fluminense de Energia (SFE) até 2002. Barreiro também foi dono da GCF2 Consultoria Ltda, empresa de consultoria na área de energia elétrica, até 2011. Passou por outras empresas até chegar à Emdec em 2014. Barreiro é engenheiro elétrico e não tem nenhum conhecimento em transporte público, mas por vias políticas de interesse do prefeito Jonas Donizette e seus partidários do PSB.

Como consultor na área elétrica, fica a suspeita de direcionamento do edital para empresas do setor, pois não tem o menor cabimento uma quantidade exorbitante de veículos elétricos na cidade, sem o menor suporte. Além dos veículos, que são muito caros, há a necessidade da instalação milionária de carregadores e subestações nas garagens, o que encheria os bolsos das operadoras de energia elétrica com a maior facilidade.

O Tribunal de Contas do Estado pediu que seja feito um estudo adequado sobre a viabilidade da implantação dos ônibus elétricos na cidade, se realmente isso é possível, pois no “ótimo” edital da Emdec não há nada constatando que isso seja financeiramente viável com a tarifa a R$ 4,95. Enquanto isso, o edital segue suspenso.

O jogo de interesses e de quem iria encher os bolsos de dinheiro com tal direcionamento é um fato no edital do transporte público campineiro. Agora, é só lembrar disso na hora de votar.