História dos Transportes em Campinas | A região do Ouro Verde (Capítulo 28)

O ano era 1989 e o prefeito Jacó Bittar estava assumindo a prefeitura. Escolheu um nome completamente técnico para a secretaria de transportes: Jurandir Fernandes, até então filiado ao badalado Partido dos Trabalhadores, partido que havia levado centenas de prefeituras, inclusive a de São Paulo.

Jacó assumiu prometendo uma série de melhorias no transporte, que estava bastante precário quando assumiu o governo. Exigiu uma renovação massiva da frota que estava bastante velha e ultrapassada.

Em contrapartida, a prefeitura prometera melhorias viárias com a abertura de novas avenidas, alargamentos e implantação de novos e mais modernos pontos de parada para os passageiros.

Até então a tarifa do transporte foi sendo reajustada de acordo com a inflação, de forma mensal, já que o país ainda vivia um período de hiperinflação. Porém em agosto daquele ano o caldo azedou.

Os empresários do transporte na época pediram um reajuste na tarifa e a prefeitura negou. Dessa forma, os donos dos ônibus informaram que iriam abandonar a cidade, e Jacó pagou pra ver.

Do dia para a noite, os empresários levaram embora quase toda a frota de ônibus da cidade. Em visita à garagem da URCA, a prefeitura encontrou apenas dois ônibus. O caos estava instaurado.

Sem ônibus, a prefeitura precisou remanejar urgentemente ônibus que foram encontrados nas garagens das outras empresas. Toda a frota foi “requisitada” depois de um decreto de intervenção no sistema.

Com a frota requisitada à força pela prefeitura, a polícia militar esteve junto nas visitas e os coletivos foram retirados por funcionários da Setransp e da Prefeitura, pois os motoristas e cobradores das empresas estavam impedidos de trabalhar.

O problema maior ainda estava por vir. No final de semana do locaute, estava marcada uma campanha de multivacinação, e naquela época a população usava muito o transporte para se deslocar até os postos de vacinação.

Sem saída, o prefeito Jacó Bittar foi até São Paulo e pediu ajuda ao governador Orestes Quércia e à prefeita paulistana Luiza Erundina, sua amiga e do mesmo partido. Cada um prometeu emprestar 100 ônibus para Campinas.

Na sexta-feira anterior ao sábado da vacinação, Campinas recebeu um comboio de 100 ônibus da CMTC paulistana, que circularam na cidade durante o final de semana da vacinação, e mais 100 ônibus da EMTU, na época com frota pública, que ficaram na cidade até o final da crise. Os ônibus foram imediatamente distribuídos por toda a cidade.

A região do Ouro Verde ficou com ônibus das duas empresas, operando em linhas improvisadas por eixo: Amoreiras e Mirandópolis. Os motoristas eram fiscais e funcionários da Setransp. Até motoristas de caminhões de coleta de lixo foram para os ônibus. Na época a coleta de lixo não era terceirizada como hoje.

Dez dias depois da crise, a prefeitura acertou o aumento da tarifa, os ônibus da URCA voltaram e os da EMTU foram devolvidos. Nessa, Jurandir Fernandes não concordou e deixou o cargo, assumido por Laurindo Junqueira.

No próximo capítulo, vocês acompanharão a implantação da primeira linha com saída para a Rodovia Santos Dumont e a consolidação do Terminal Ouro Verde.

Da Redação ODC.
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