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      Da CCTC ao BRT: Por que o transporte coletivo em Campinas piorou tanto em 50 anos?

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      A cidade de Campinas tem hoje à sua disposição cerca de 1200 ônibus e micro-ônibus, somando-se os veículos das cooperativas e das concessionárias do transporte público. Levando-se em consideração a população média, é um veículo para pouco mais de 850 pessoas. Em São Paulo, essa proporção é mais ou menos de 1 ônibus para cada grupo de 750 pessoas, isso sem contar que por lá há seis linhas de metrô, as linhas de trens metropolitanos e os ônibus intermunicipais para contribuir com os deslocamentos de cerca de 11 milhões de paulistanos.

      A CCTC operou por décadas em Campinas e sempre da forma que bem quis.

      Com isso, podemos concluir que Campinas tem ônibus insuficientes para atender à demanda. Em 1991, considerada a “época de ouro” do transporte coletivo de Campinas, a cidade tinha 847.595 habitantes, de acordo com dados da Fundação IBGE compilados em uma publicação da Seplama sobre a população da região. Nessa época, a frota de ônibus de Campinas era de cerca de 750 veículos, o que dá uma média de um coletivo para 1130 pessoas. A pergunta é: se havia menos ônibus para mais pessoas, onde está o problema hoje, onde a oferta proporcional de veículos é bem maior?

      Em 1991, o transporte de Campinas era considerado um dos melhores do país. Em uma pesquisa de satisfação feita com usuários de várias cidades, Campinas ficou em segundo lugar, perdendo apenas para Salvador. Vamos fazer um paralelo daquela época com a de hoje e tentar explicar as diferenças.

      Até 1982, Campinas não tinha uma Secretaria de Transportes. O sistema de transporte de Campinas era gerido pela SETEC e a EMDEC cuidava das obras públicas, principalmente de saneamento, atribuição que hoje é da Sanasa. Em 1982 o então prefeito Francisco Amaral criou a SETRANSP – Secretaria Municipal de Transportes, liquidou a EMDEC e mudou as atribuições da SETEC, que ficou limitada ao serviço funerário municipal e à fiscalização do uso do solo. Com isso, a SETRANSP ficou responsável pelo gerenciamento das linhas de ônibus que acabara de serem permissionadas às empresas da época.

      A URCA, novo nome da Viação Campos Elíseos, renovou toda a sua frota.

      Apesar dessa reorganização, o sistema de transporte de Campinas continuava muito ruim pois a frota era extremamente precária. Empresas já desistiam das linhas e a renovação não era frequente. Em 1984 a prefeitura tentava dar uma “guinada” no sistema colocando em prática uma antiga ideia, que era o Projeto Trólebus. A Avenida das Amoreiras recebeu um corredor exclusivo para ônibus, onde deveriam circular apenas veículos elétricos, algo que nunca ocorreu pois em 1987 a CPFL, na época ainda estatal, desistiu do projeto por achar inviável. Com isso, ônibus a diesel foram para dentro do corredor, inaugurado em três trechos: Da Avenida João Jorge ao São Bernardo, do São Bernardo ao Cidade Jardim e do Cidade Jardim à Vila Rica.

      Em 1985 a cidade recebia o seu primeiro terminal de integração, o Terminal Barão Geraldo. Usado como modelo para ser implantado em todas as regiões, a CCTC – Companhia Campineira de Transportes Coletivos preparou veículos grandes e robustos para fazer os trechos bairro-centro, enquanto os veículos menores faziam apenas as linhas de bairro. Com isso, dezenas de ônibus deixaram de ir para o Centro, otimizando o sistema. No final do mesmo ano foi inaugurado o Terminal Central, como ponto inicial do Corredor Trólebus. No outro extremo, foi inaugurado anos depois o Terminal Ouro Verde, represando dezenas de linhas da região e otimizando os deslocamentos com três linhas-tronco: a 5.70 para a Rodoviária, a 5.71 Expressa e a 5.72 Semi-Paradora, também conhecida como Semi-Expressa. Com o tempo, outros terminais de inauguração foram sendo inaugurados como o do Campo Grande, que começou aberto ainda em obras para receber as linhas da EMDEC que assumira os itinerários da descredenciada TUGRAN – Transportes Urbanos Campina Grande. Foi aí, em 1990, que a EMDEC foi recriada, já no governo Jacó Bittar.

      A AVA foi uma das que desistiu rapidamente de operar em Campinas.

      A ideia de Bittar era municipalizar todo o transporte da cidade e por isso começou recriando a EMDEC como empresa de ônibus e colocando ela para operar na região do Campo Grande, onde a TUGRAN acabara de sofrer intervenção. A ideia não foi muito pra frente pois o lobby foi muito forte, porém a prefeitura deu uma baita força para que a frota da cidade inteira fosse renovada de forma maciça. Foi aberta uma linha de crédito via BNDES para que as empresas comprassem novos ônibus, e isso foi feito. A Viação Campos Elíseos mudou de nome para URCA e comprou vários veículos pesados e os primeiros ônibus com três portas da cidade, ao lado da EMDEC.

      Com a renovação em andamento, a Setransp fazia a sua parte com uma fiscalização eficiente e distribuição de cadernetas com as tabelas horárias dos coletivos, que eram cumpridas. Em 1995 a EMDEC deixou de existir como empresa e passou apenas a gerenciar o sistema, tirando essa atribuição da Setransp. Foi aí que a “vaca foi pro brejo”.

      Veículos velhos ainda rodavam pela cidade.

      Desde que a EMDEC assumiu o gerenciamento do sistema de transporte de Campinas, nada mais foi como antes. Apesar da estrutura ser praticamente a mesma da antiga Setransp, a EMDEC relaxou em relação a vários procedimentos, deixando as empresas simplesmente fazer qualquer coisa. Foi assim entre 1997 e 2000, quando chegaram os perueiros e a frota simplesmente deixou de ser renovada, depois entre 2001 e 2002 a cidade teve uma renovação grande de frota por exigência do prefeito Toninho como condição para subir a tarifa em 30% na época (e na ocasião o ODC, na época Portal SIT Campinas, denunciou a renovação com ônibus usados por parte da extinta VBTU). Entre 2002 e 2005 foi tudo empurrado com a barriga com renovações pontuais já que o sistema iria ser licitado (mesma desculpa para os dias atuais). Entre 2005 e 2012 o sistema viveu uma falsa melhora, já que a frota foi renovada totalmente, mas o sistema já estava precário. Várias linhas de bairro voltaram a ir para o Centro, praticamente desmontando o sistema troncalizado iniciado nos anos 80. Estações de transferência foram desmontadas e itinerários reavaliados. A partir de 2013, o sistema só caiu em declínio. A frota ainda foi renovada até 2015, mas ficou nisso. Vários coletivos foram retirados das ruas, quebras constantes e atrasos. A EMDEC faz vista grossa, multa mas ninguém paga e fica por isso mesmo, não guincha veículo irregular e não cobra atrasos.

      E assim vamos vivendo, com um transporte ruim e com uma prefeitura cada vez mais omissa, parece esperando que o mandato acabe rapidamente para evitar uma cassação.

      Da Redação ODC.